O DOM DA FALA

O dom de falar é uma das capacidades mais assombrosas e intrinsecamente humana. Não nos damos conta desta maravilhosa capacidade desenvolvida porque nos acostumamos de uma forma natural e despretensiosa em nosso dia-a-dia, embora seja um fenômeno extremamente complexo, enigmático  e simultaneamente perfeito. Para transmitir nossas ideias a outras pessoas pronunciamos palavras. – Já pensou como isto é fantástico? A onda sonora gerada pela voz humana carrega em si todos os matizes de suas idéias e sentimentos, alcança o ouvido de outra pessoa e em seguida todas as ideias e sentimentos se tornam acessíveis a esta pessoa, que revela seu sentido e significados ocultos. Como isto é possível? – Quais são as leis da acústica, da fisiologia e da psicologia que se ocultam neste “milagre” da natureza tão habitual para todos nós? – Já pensaram o quanto uma voz poderá ser reveladora nos vários momentos particulares de um ser humano?

A ciência tem percorrido uma via historicamente muito extensa através de grandes descobrimentos e numerosos modelos de investigação sobre o processo da fala. Associado a este problema está o da linguagem e o  das emoções transmitidas. O discurso (ou a fala) de uma pessoa desconhecida poderá nos dizer muito sobre seus sentimentos e até seu talento, quando observamos o timbre da sua voz, assim como sua maneira de falar, as entonações, o hábito da altura, o ritmo da fala. A voz poderá ser entusiasmada, “quente” e/ou suave, raivosa e/ou sombria, assustada e/ou tímida, jubilosa e/ou segura, indagadora e/ou insinuadora, firme e/ou triunfante dentre outros tantos matizes que expressarão os mais diversos sentimentos, estados de ânimos e inclusive pensamentos.

O homem quando fala transmite ao ouvinte por meio das ondas sonoras a informação de três tipos diferentes: primeiro, nos inteiramos sobre o que se fala. É uma informação esclarecedora ou semântica; segundo, quem fala, graças às peculiaridades característica individuais da voz de cada um. Por fim, e mais importante, como fala, ou seja, com que atitude emocional.

Em regra geral, o contexto emocional do discurso está em uníssono com o sentido lógico e o reforça consideravelmente. Pois é independente do sentido lógico do discurso e por isso pode inclusive contradizê-lo. Ademais, na fala cotidiana, não se sabe por que, sempre estamos propensos a crer mais nesse contexto emocional do discurso que em seu sentido lógico. Quem crerá, por exemplo, no sentido lógico das palavras: “Me alegro de vê-lo”, quando pronunciado com raiva ou ira?

A independência da percepção do sentido emocional do discurso relativo ao seu entendimento lógico tem uma curiosa base fisiológica: as investigações realizadas, sobre todo estes anos, em vários centros de pesquisas e laboratórios do mundo tem demonstrado que o homem percebe o sentido lógico do discurso com o hemisfério esquerdo do cérebro, e o emocional, com o lado direito.

Os fisiólogos já sabiam que no hemisfério esquerdo do cérebro se encontram os centros mais importantes da linguagem – o centro de Wernicke e o centro de Broca, cujas alterações  o homem pode deixar de entender a lógica da linguagem, ainda que escute e inclusive perca a fala. O hemisfério direito do cérebro, segundo alguns dados, se encontra um setor cuja deterioração originará a “amusia”, isto é, a alteração da capacidade de perceber a música e a melodia do discurso que leva um sentido emocional.